O rápido avanço da inteligência artificial generativa deve escalar a demanda por data centers em todo o mundo – e com ela, o consumo de energia limpa necessária para uma montanha cada vez maior de dados e treinar modelos cada vez mais complexos.
Seria essa uma oportunidade para finalmente o Brasil conseguir ‘exportar’ sua capacidade de produzir energia renovável? Nos últimos dias, diversos sell sides se debruçaram sobre a questão, todos de acordo com o tamanho da oportunidade em potencial – e com boas divergências sobre a capacidade real de o Brasil aproveitá-las.
Para o Santander, um dos mais otimistas, o Brasil pode ser um dos beneficiários desse mercado, que atingiu US$ 329,3 bilhões em 2023 e pode chegar a US$ 438,6 bilhões até 2028, com uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,6%.
Embora os data centers estejam atualmente concentrados nos Estados Unidos e na Europa, esses mercados enfrentam desafios relacionados ao fornecimento de energia e água (usada para resfriar equipamentos), bem como à regulamentação sobre eficiência energética e emissões de carbono.
“Nesse contexto, o Brasil se destaca globalmente pela sua geração de energia limpa, disponibilidade de recursos e eficiência de custos”, destacam os analistas do banco espanhol.
O time do Itaú BBA foi consultar a Nvidia, fabricante de semicondutores cujas ações simbolizam a euforia com a IA: se valorizaram 1100% desde as mínimas em 2022. A resposta sobre os gargalos energéticos, dizem os analistas, foi interessante.
“Geografias com renováveis baratas e abundantes poderiam hospedar data centers de IA. E isso inclui a América do Sul.”
O mais cético é o time do UBS. Para os analistas do banco suíço, o Brasil terá data centers, mas não numa quantidade capaz de mudar o jogo e colocar o país na rota de investimentos – e tampouco mexer de forma estrutural com a sobre oferta de energia renovável que vem assolando o país em meio ao baixo crescimento econômico e disparada da geração distribuída.
De acordo com a equipe de Giuliano Ajeje, a distância geográfica entre data centers no Brasil e principais hubs nos Estados Unidos e na União Europeia leva a preocupações com latência. Em outras palavras: essa distância impacta a velocidade da transmissão de dados, o que é crucial para as operações dos data centers, afirma o UBS.
Para o time do BBA, esse ponto, porém, pode ser menos relevante. “Embora haja uma oportunidade para inferência local (ou seja, rodar os modelos localmente), a maior oportunidade é para treinamento de LLM (large language model, que trata da arquitetura de um modelo neural dos sistemas), onde que a latência não é um problema”, escrevem os analistas.
Fonte: Exame